segunda-feira, 9 de junho de 2014

ES lidera estatísticas nacionais de violência contra mulheres

Há 4 anos, a cabeleireira Susana, de 50 anos, viveu um drama capaz de comover os corações mais insensíveis. Ela foi vítima do seu próprio companheiro, o mesmo a quem, durante dois anos, havia se dedicado totalmente e entregue sua confiança de esposa, de mãe e de amiga. O relacionamento dela com seu companheiro era comum, não tinha muita discussão, apenas coisas simples como em toda vida a dois. Com o passar do tempo, ela descobriu que ele era usuário de drogas, o que a fez perder a admiração pelo marido.

Quando ele percebeu que ela não mais queria estar ao seu lado, apresentou um comportamento diferente e passou a ser agressivo. Porém, ela não acreditava que um dia pudesse chegar ao ponto de agredi-la.

Num fim de tarde de sábado, em janeiro de 2010, ele a convidou para fazer um passeio. Depois de ter entrado no carro, ela não se lembra de mais nada, apenas do momento quando acordou numa mata em Barra do Riacho, Aracruz. Ao acordar, ainda era madrugada e não conseguia enxergar muito o que estava à sua frente. Foi quando ela se deu conta que havia sido espancada.
 
Susana teve que passar por cirurgia, pois havia quebrado o maxilar e sofrido um traumatismo craniano. Depois de alguns dias de internação, ela foi se lembrando do que havia acontecido e procurou ajuda da polícia. Ficou amparada por medida protetiva durante seis meses.

Hoje, Susana pede que todas as mulheres, ao serem ameaçadas, que denunciem, e que não se calem. E espera que a sua história sirva de exemplo.

“O que eu peço às mulheres hoje em dia, que elas possam ser não a primeira Susana, mas essa segunda Susana, essa de agora, essa que quase morreu, essa que passou por uma casa abrigo, essa que sofreu. Que elas não se esqueçam e não passem o que Susana passou. E que elas tomem coragem de se reunir, de buscar alguém da Justiça, e nunca contar para qualquer pessoa”.

Números

Diferente da história de Susana, que conseguiu sobreviver às agressões, outras tantas não conseguiram o mesmo. Elas acabaram virando índices, e entraram na estatística, aumentando o número de mulheres mortas no Estado.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que, entre 2009 e 2011, o Brasil registrou 16,9 mil mortes de mulheres por conflito de gênero, especialmente em casos praticados por parceiros íntimos. A pesquisa mostra que o Espirito Santo é o estado brasileiro com a maior taxa de feminicídios.

Dados da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Espírito Santo também indicam que 10% dos assassinatos de 2013 foram de mulheres. De janeiro até 23 de fevereiro deste ano, do total de homicídios registrados, 8% tinham mulheres como vítimas. Das mulheres assassinadas, 77% estão na faixa etária entre 13 e 34 anos.

Dificuldades no atendimento

As mulheres vítimas de violência passam por diversas dificuldades. Membro do Fórum Estadual de Mulheres, Eusabeth Vasconcelos, aponta que um dos problemas que as mulheres encontram é logo quando entram nas delegacias.

“Um dos entraves é o acolhimento. Elas chegam na delegacia e os policiais perguntam se ela vai representar ou não vai representar? Ela não sabe o que é isso”.

Rede em Defesa da Mulher

Diante dessa realidade de violência contra a mulher capixaba, desde o último ano a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Vitória passou a funcionar 24 horas, inclusive aos sábados e domingos, período em que a violência doméstica mais acontece. Ainda na Grande Vitória existem delegacias especializadas na Serra, Cariacica, Vila Velha e Guarapari, mas não funcionam 24 horas.
 
No interior do Estado o problema é ainda mais grave, pois apenas nos municípios de Colatina, Cachoeiro de Itapemirim e São Mateus há delegacias especializadas, mas que também não funcionam 24 horas. Em Linhares, o espaço onde funcionará uma delegacia ainda está em reforma.

Para a subsecretária de Movimentos Sociais da Casa Civil do Estado, Leonor Araújo, há necessidade de ampliação do atendimento social à mulher.

“O nosso maior problema hoje em relação à políticas para as mulheres é o fortalecimento da rede que dá o subsídio para essa mulher que sofreu a violência. A gente tem que fortalecer todos os centros, criar mais centros especializados de atendimento à mulher. Nós temos que criar mais delegacias especializadas de atendimento à mulher. Nós precisamos ampliar essa rede”.

Em Vitória, além do atendimento policial especializado funcionando 24 horas, 200 mulheres também fazem uso do Botão do Pânico. O objetivo é fazer com que elas acionem o botão quando se sentirem ameaçadas. O aparelho permite a localização da vítima e o envio imediato de uma viatura policial para o socorro da ameaçada.
Segundo a juíza Hermínia Azoury, Coordenadora Estadual da Mulher em situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário, o mais interessante é que não está ocorrendo reincidência de homens agressores.

“Nenhum agressor que foi processado ou que estava sob medida protetiva, cujas vítimas tinham em posse o botão do pânico, reincidiu porque eles sabiam que seriam presos. Esse aspecto inibidor foi extremamente relevante”.

Todos os dias uma nova mulher recebe o equipamento, transferido de outra em situação de menos risco. Há quase um ano do seu lançamento, o botão precisou ser acionado sete vezes, segundo o próprio Tribunal de Justiça, resultando em três prisões e em quatro mandados de prisão.

As histórias de Marias, Fátimas, Penhas, Adrianas e tantas outras que perderam suas vidas de forma prematura contribuíram para escrever essa triste página da história do Espírito Santo. Personagens da vida real que poderiam ter tido um final diferente.

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