Centro
de Santa Teresa
Nos
caminhos da imigração italiana, origem europeia que predominou na colonização
do município capixaba de Santa Teresa, vieram também o preconceito e a rejeição
dos habitantes negros desta região.
Casa
da Família Lambert - primeira
moradia de Santa Teresa construída em 1875, pelos irmãos Antônio e Virgílio
Lambert.
Na segunda
metade do século XIX ocorrem alguns fenômenos importantes que irão traduzir
algumas modificações na estrutura econômica e social do pais, contribuindo para
o desenvolvimento relativo do mercado interno e estimulando o processo de urbanização.
A transição do trabalho escravo para o trabalho livre: a cessação do trafico em
1850, a abolição em 1888 e a entrada de numerosos imigrantes no país (COSTA,
1998).
Desde a
vinda de D. Joao VI para o Brasil tem-se em pauta a discussão sobre imigração.
No inicio o problema era demográfico, faltavam pessoas para povoar o Brasil, e
iniciou-se a formação de núcleos coloniais formados com imigrantes alemães, italianos
e outros. A partir de meados do século, com a extinção do tráfico internacional
de escravos, em lugar de imigrantes pequenos proprietários passou-se a promover
uma politica que visava fornecer braços
para a lavoura, mudando assim sua orientação que antes era colonizadora.
O iminente fim da escravidão e a crescente expansão cafeeira exigiam uma solução
para o problema de mão-de-obra. Os imigrantes tornaram-se a solução imediata
(COSTA, 1985).
Esta fonte de dados de Costa nos
mostra dados genéricos sobre o processo de colonização e imigração brasileiros,
sob o ponto de vista da comunidade negra, principalmente nas regiões
interioranas.
Atualmente,
com população estimada em 23.432 habitantes (IBGE, 2013) Santa Teresa é uma
cidade acolhedora, com heranças culturais fortemente ligadas às tradições
italianas, mas também com traços alemães, africanos e de tantas outras
influências ao longo de sua existência.
Entretanto,
parte da história de nosso município, é desconhecida por muitos descendentes. Trata
da tirania de um militar italiano, no final do século XIX, Capitão Vivaldi
contra os negros que residiam e trabalhavam em Santa Teresa, principalmente na
comunidade de São João de Petrópolis. O mascate José Calhau, viajante e
astucioso, ao passar por essas terras, resolveu dar à Vivaldi o que ele
merecia, diante de tantos maus tratos e violências cometidas contra seus
companheiros negros.
Instalações
do IFES, Campus Santa Teresa, antigamente denominada Escola Agrotécnica Federal
de Santa Teresa, localizada em São João de Petrópolis
Em
2 de novembro de 1898, Calhau e seu bando invadiram Barracão de São João de Petrópolis,
surpreendendo os capangas do capitão. Muitos da milícia dele morreram. Não
houve baixas no grupo de invasores. O bando de Calhau incendiou casas e até o
cartório da região foi destruído. Ainda hoje há dificuldades para conseguir
informações sobre registros antes do ano de 1898 na região porque os livros
foram queimados.
Calhau
e seu grupo dominaram Vivaldi e decidiram dar ao capitão o mesmo tratamento
dispensado aos negros. Vivaldi foi espancado e apunhalado diversas vezes. Com o
objetivo de dar ao capitão uma morte lenta e dolorosa, Calhau decidiu atear
fogo no sobrado de Vivaldi, para que ele fosse queimado vivo, mas Vivaldi foi
resgatado pelos capangas sobreviventes. Os registros de sua morte datam de 9 de
novembro de 1939. já sobre Calhau não há indícios de seu destino após o feito.
A
bela frase que define nossa cidade: “primeira cidade brasileira fundada por
imigrantes italianos, a pequena Santa Teresa, rodeada de altas montanhas, está
localizada na região serrana do Estado do Espírito Santo”, infelizmente oculta
esses e talvez outros acontecidos que marcaram com sangue a trajetória negra na
colonização de Santa Teresa.
De
acordo com o historiador Fausto (2002, p. 87):
“apesar
das variações de acordo com as diferentes regiões do país, a abolição da
escravatura não eliminou o problema do negro. A opção pelo trabalhador
imigrante, nas áreas regionais mais dinâmicas da economia, e as escassas
oportunidades abertas ao ex-escravo, em outras áreas, resultaram em uma
profunda desigualdade social da população negra. Fruto em parte do preconceito,
essa desigualdade acabou por reforçar o próprio preconceito contra o negro.
Sobretudo nas regiões de forte imigração, ele foi considerado um ser inferior,
perigoso, vadio e propenso ao crime; mas útil quando subserviente”.
Vale
lembrar que em 1888, quando a Lei Áurea foi assinada, o Brasil era um dos
últimos países no mundo a abolir a escravidão. Eternizada no tempo (e nas
cartilhas escolares), como uma liberdade concedida de forma paternalista pela
princesa Isabel, a abolição foi, sobretudo, uma consequência natural para anos
de atuação e luta de escravos, libertos, intelectuais, jornalistas negros e
mestiços, em prol de seus próprios direitos.
REFERÊNCIAS
COSTA,
Emília Viotti da. Da senzala à colônia. 4.ed. São
Paulo: Ciências Humanas, 1998.
BIASUTTI, Luiz Carlos e LOSS, Arlindo. Revolta do Calhau. Matéria em A Tribuna, baseada no livro São
Roque do Canaã – Uma história de Fé, Trabalho e Vitórias. Compilação Walter de Aguiar Filho,
julho/2013. Disponível em: http://www.morrodomoreno.com.br/ materias/revolta-do-calhau.html. Acesso em
08/07/2014.
FAUSTO, Boris. História
do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2002.
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